Encontro nacional debate erradicação do trabalho infantil

Evento online reuniu crianças e adolescentes do Ceará e outros estados

A participação e o protagonismo de adolescentes contra o trabalho infantil no Brasil foram debatidos nesta terça-feira (22) durante evento online conduzido pelo procurador do Ministério Público do Trabalho no Ceará (MPT-CE) Dr. Antonio de Oliveira Lima. Com mais de 12 mil espectadores, participantes cearenses e de outras regiões apresentaram projetos focados no combate ao trabalho precoce e questões atuais associadas à problemática.

Promovido pela Rede Peteca, o evento marcou o III Encontro Nacional de Adolescentes pela Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (Enapeti) e a 6ª edição do encontro estadual (Ecapeti). Em vídeos filmados antes do evento, outros estudantes apresentaram situações como o trabalho infantil doméstico, que ocorre quando crianças e adolescentes são submetidos a responsabilidades de adultos pelos cuidados com o próprio ao lar – como limpar a casa, cuidar dos irmãos menores e de idosos –, recebendo remuneração ou não.

O encontro contou com a presença da coordenadora nacional da Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Coordinfância), Ana Maria Villa Real, além de profissionais de todo o Brasil integrantes da rede de proteção a crianças e adolescentes.

Protagonismo

Letícia Sandim e Diana Alvarenga, estudantes em Rio das Ostras (RJ), apresentaram o projeto “3A da Erradicação do Trabalho Infantil”, finalista da maior feira ciências e engenharia do Brasil, em 2022. A pesquisa sobre os prejuízos do trabalho precoce foi realizada na escola Pensi Casulo com 200 estudantes de idades e séries diferentes. A partir da constatação de expressiva desinformação sobre o tema, foi criada a hipótese dos três “As”: Aprender, Apoiar e Averiguar. A ação também resultou em um site com instrumentos para reflexão sobre trabalho infantil, como jogos e cursos, além de formulários de solução tecnológica voltada à escola.

Ainda com foco no protagonismo contra o trabalho infantil, a ativista social e escritora Anna Luiza Calixto destacou que “de nada adianta nós fazermos esse encontro se ele se encerrar quando sairmos daqui”, o que indica a importância de luta contínua, para além do debate virtual. “Eu quero propor que a gente organize nossa esperança. Que vocês possam ficar indignados ao ouvir que nós temos 1,8 milhão de crianças trabalhando no Brasil”, disse.

Com base no pensamento do médico e educador polonês Janusz Korczak, Anna Luiza dirigiu a palavra às crianças para lembrá-las que a criança é pessoa já, não apenas o adulto do amanhã. “Para as crianças que estão participando desse encontro, entendam-se como sujeitos de direito. Vocês são o presente de uma nação”, enfatizou.

Participação

Estudante no município de Senador Pompeu (CE), Isabele Fernandes questionou mitos associados ao trabalho infantil, “frases que têm aparência verdadeira, mas não são (...) São frases tiradas de contexto, que pessoas repetem sem pensar no verdadeiro significado, e depois de algum tempo acabam acreditando em algo que não é verdade”.

Para exemplificar, Ana Raquel, de Redenção (CE), rebateu alguns desses mitos, como a frase “trabalhar é melhor que roubar”. A jovem reiterou que, no Brasil, o trabalho é permitido apenas a partir de 16 anos e proibido para qualquer pessoa com idade inferior. Ana Raquel também argumentou contra mitos como “trabalhar não mata ninguém” e “trabalhar ajuda na família”.

Ao explanar formas mais concretas de combate, a adolescente Priscilla, de Orós (CE), citou inicialmente o Disque 100, canal para denunciar situações de exploração. “É necessário ajudar os estudantes a identificar situações de trabalho infantil, pois muitas vezes estão inseridos nessa situação e não conseguem identificar”, acrescentou.

Além disso, Priscilla sugeriu, como forma de combate, a participação ativa em programas, como a Rede Peteca, mobilizadores da sociedade em prol da erradicação de violências infantis. “Nos proporciona protagonismo, liberdade de expressão, nos mostrando que nossa opinião não deve ser inferiorizada”, disse. A jovem concluiu sua contribuição com uma frase do educador e filósofo Paulo Freire: “Enquanto eu luto, sou movido pela esperança; e se eu lutar com esperança, posso esperar”.

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