Do roçado a referência na conscientização contra o trabalho infantil
Somente no Ceará, mais de 146 mil crianças têm o direito à infância violado por ter que trabalhar, quando deveriam estar estudando e brincando. Por trás dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), divulgada em setembro deste ano, existem histórias como a do garoto Joel Dantas.
Ainda criança, Joel enfrentava jornada exaustiva sob o sol de Quixadá, município a 168 km de Fortaleza. Aos 8 anos de idade, sua rotina apontava para um caminho de poucas perspectivas de melhorar sua condição social. “Quando eu era pequeno, acordava às 4h30min para trabalhar no roçado. Era eu e a enxada até o meio-dia. Plantava verduras, milho, feijão, essas coisas”, Lembra Joel.
Após o expediente na lavoura, Joel seguia para a escola, mas não conseguia aproveitar os momentos de estudo. “Ia para a escola cansado, desanimado. Quando tinha prova eu não sabia de nada porque não conseguia estudar”, conta. A história do garoto começou a tomar novo rumo a partir da ação da diretora e da professora de sua escola. Elas identificaram a situação de trabalho infantil em que estava o menino, procuraram conversar com a família e integrá-lo a outras atividades da escola.
No ambiente escolar, Joel tomou conhecimento do Programa de Educação contra a Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Peteca), promovido pelo Ministério Público do Trabalho, e do prêmio oferecido a estudantes de escolas públicas que realizam tarefas artísticas abordando o trabalho infantil. As professoras sabiam do gosto do menino por música e de seu talento para cantar e o estimularam a compor uma canção para concorrer ao Prêmio Peteca.
Falar da realidade que ele mesmo vivenciou não foi difícil para Joel. Transformar sua história em música e protesto contra a exploração da mão de obra infantil também não. Agora com tempo para se dedicar aos estudos e atividades culturais, o menino compôs a música escolhida entre todas as composições de alunos de Quixadá para representar o município.
No fim de 2013, Joel conquistou também o júri da etapa estadual do Prêmio Peteca, conquistando o primeiro lugar. Hoje com quinze anos, Joel tornou-se referência em Quixadá, conhecido por todos de sua escola e até por desconhecidos que passam na rua. “Meus amigos até brincam: agora está famoso, nem vai mais ligar para os amigos, não é, Joel? Eu, digo: claro que não, continuo o mesmo”.
Ele tem sido convidado a falar em eventos voltados a outros estudantes no município. Em novembro deste ano, foi convidado a participar de evento na Câmara dos Deputados, em Brasília, em evento do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPET).
EM 2015, Joel vai cursar o 2º ano do ensino médio. Sonha em fazer faculdade de Direito e, quem sabe, ajudar a transformar a realidade das milhares de crianças de seu Estado que ainda têm seus direitos violados.
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