Evento da Rede Peteca recebe cerca de 50 mil inscrições
O encontro online abordou sobre o bullying e outras violências nas escolas
No dia 17 de abril, das 16h às 19h, aconteceu o seminário “Prevenção ao bullying e demais violências nas escolas”, que foi transmitido pelo canal da Rede Peteca no YouTube. O evento online foi mediado pelo procurador do Trabalho Antonio Lima e promoveu o debate com profissionais de áreas conexas com o tema abordado.
O procurador agradeceu a presença de todos, em especial dos que atuam como mobilizadores das ações da Rede Peteca. Ele destacou que o evento obteve quase 50 mil inscrições, o que sinaliza eficiência no trabalho realizado pelos apoiadores da Rede.
Antonio Lima afirmou que o bullying é uma das principais violências cometidas no âmbito escolar. Todavia, outra questão vem repercutindo na mídia e causando dor e apreensão aos pais. Trata-se dos casos de extrema violência contra crianças e adolescentes nas escolas. “Essas questões que vivemos nos últimos dias no Brasil tornam mais urgente e necessário o debate, que não deve se encerrar hoje, mas sim ser permanente, com vistas à prevenção e com foco na educação”, disse. O coordenador da Rede Peteca exaltou a importância da discussão sobre violência nas escolas e afirmou que, além da reflexão, é preciso “que os alunos e as alunas participem desse debate, pois estão diretamente ligados ao tema discutido”.
A primeira debatedora do evento foi a representante da Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Ceará (APDMCE), Suellem Fortaleza. Ela elogiou a iniciativa de se discutir o assunto. “Passamos por uma época de instigação ao ódio e precisamos reverter isso nas salas de aula”, destacou. Suelem Fortaleza também enfatizou que é preciso prevenir a violência nas escolas. “A gente traz a discussão desse tema em um momento de muita atenção, de muito cuidado e, principalmente, de observação”.
Na sequência, foi dada a palavra a Joacy Junior, vice-presidente da Associação dos Prefeitos e das Prefeitas do Estado do Ceará (APRECE). “Infelizmente, pessoas maldosas estão usando as redes sociais para propagar notícias falsas e isso tem causado um terror psicológico imenso nos alunos, professores, pais de alunos e gestores de ensino”, relatou. Ele afirmou que a associação se reuniu com o secretário de segurança e com outros gestores para discutirem formas de coibir a violência nas escolas. Além disso, reforçou o papel da comunidade escolar na conscientização sobre o tema. “Temos que encampar essa luta e procurar uma saída que cause o menor transtorno possível aos nossos alunos, em especial aos que sofrem bullying e trabalhar junto a eles para evitar danos psicológicos e possíveis chacinas e crimes posteriores”.
Complementando a fala de Joacy Júnior, o procurador Antonio Lima opinou que, para coibir os casos de violência, é preciso que a polícia aja com “inteligência para identificar os agressores e as pessoas que ameaçam a vida e realizar um trabalho com mais segurança” e, nas escolas, “o problema deve ser resolvido com a prevenção”.
A procuradora do Trabalho e coordenadora do projeto “Segurança e Saúde das Escolas”, Cilene Zimmerman, também participou do evento e, durante a explanação, discorreu sobre o projeto citado sob a ótica preventiva da saúde do trabalhador. Ela citou dados estatísticos sobre acidentes do trabalho, extraídos da plataforma do Observatório de Segurança e Saúde do Trabalho, desenvolvida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Segundo a procuradora, “é importante que a temática seja discutida nas escolas, que seja objeto do processo de ensino-aprendizagem, voltado à qualificação para o trabalho”. Para Cilene Zimmerman, as discussões no âmbito escolar sobre trabalho decente, seguro e saudável são formas de conscientizar crianças e jovens, afinal “as escolas também são ambientes de trabalho” e, tornando-se ambientes saudáveis, podem, assim, prevenir a violência tendo como premissa “a educação pelo exemplo”.
Sobre a prática do bullying nas escolas, a procuradora reforçou que essa é uma temática recorrente e que precisa ser amplamente discutida. “A questão do bullying não é simplesmente falar sobre combate e prevenção, mas sim, tocar na base, falar sobre cultura de paz e sensibilizar as pessoas a dialogarem”, ressaltou.
A outra convidada do evento foi a psicopedagoga e mestre em Educação, professora Jane Haddad. No início da fala, a debatedora compartilhou um relato pessoal sobre a adaptação escolar. “Eu vim de uma escola que já tinha um projeto de eficácia e performance e eu nunca me encaixei. Eu queria falar isso para vocês, professores, jovens e adolescentes: que acreditem ser possível não se encaixar em determinado padrão e, mesmo assim, escolher o caminho da paz”.
Jane Haddad disse que desenvolve estudos relacionados aos massacres nas escolas. “Sei que estamos num momento delicado em que se exige a entrada de segurança física, mas não é só isso. Essa é a primeira ação no auge de uma crise pela qual passa a educação, que vem de um longo processo histórico de coerção”, pontuou.
A pesquisadora também descreveu o bullying e como essa prática violenta se manifesta, na qual há três “atores” envolvidos: o agressor, a vítima e os espectadores. Na oportunidade, ela explanou sobre cyberbullying, os cuidados com a saúde mental e formas de acolhimento de alunos. E ainda lançou a seguinte reflexão “enquanto instituição, qual o nosso projeto de humanização? Quem são as crianças e jovens que estamos acolhendo? E que bússola estamos oferecendo a eles?”.
Jane Haddad enfatizou o papel da escola no combate à violência. “É preciso abrir rodas de conversação, trazer as crianças, os jovens e suas famílias para construírem contratos de confiança e assembleias para discutir o tema da violência”, sugeriu.
Em seguida, foi dada a palavra à adolescente Regina Estela, aluna da Escola de Ensino Fundamental Manuel Mendes Ferreira, do município de Forquilha, no Ceará. Sobre a violência nas escolas, a discente afirmou que o ato “pode produzir consequências para a vida da criança e do adolescente”. No decorrer da abordagem, descreveu o bullying para que os espectadores pudessem entender a gravidade do problema. Ela ainda ressaltou que “a escola não deve ser um local apenas de ensino formal, mas também um lugar de formação cidadã, de direitos e deveres, de amizade, cooperação e, acima de tudo, de solidariedade”.
O promotor de justiça e coordenador auxiliar do Centro de Apoio da Educação do Ministério Público do Ceará, Jucelino Soares, também participou do evento. Ele discorreu sobre o Projeto Previne, o qual tem como um dos eixos de atuação a prevenção da violência nas escolas e, nesse sentido, atua na fiscalização do cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, e na busca pela aprovação de lei cearense que trate sobre a temática.
Segundo Jucelino Soares, o âmbito escolar é “só um mote da atuação, pois é o ambiente visto como um dos mais propícios e adequados para se identificar e criar mecanismos eficientes para notificar e acionar os demais órgãos do sistema de proteção no combate a esse tipo de violência”. Ele enfatizou que a escola “deve ser hoje um espaço de formação cívica, onde a criança se torna cidadã. E esse espaço complexo e multifacetado não tem como ser composto apenas por professores conhecedores das matérias”, o que reforça a importância da capacitação dos profissionais e do fortalecimento da rede de proteção às crianças e aos adolescentes.
A última participante do evento foi a contadora Rosaura Vargas, da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Ela atua como voluntária na campanha de destinação do imposto de renda a Conselhos Municipais e destacou que, todos os anos, mais de 9 bilhões de reais deixam de ser destinados a projetos em defesa das crianças e adolescentes. “A legislação do Imposto de Renda, que trata sobre as declarações, permite que a gente faça uma destinação de até 3% do valor do imposto devido ao Fundo Municipal da Criança e do Adolescente”, ressaltou. Na apresentação, demonstrou como realizar a doação por meio de desconto simplificado ou dedução legal e reforçou como o contribuinte pode direcionar a destinação do imposto para projetos no seu município.