MPT-CE estuda estratégias para coibir violência contra mulheres

Ceará e outros quatro estados concentraram 409 feminicídios em 2021

Cinco estados brasileiros registraram, juntos, 409 assassinatos de mulheres em violência doméstica ou por aversão ao gênero feminino, em 2021. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (10) pela Rede de Observatórios de Segurança, que monitora a violência nos estados de São Paulo, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Ceará.

Segundo o boletim "Elas Vivem: Dados da violência contra a mulher", foram 1.975 registros de violência contra a mulher (incluindo os feminicídios) nos cinco estados, em 2021, ano em que a Lei Maria da Penha completou 15 anos. Entre os casos, 409 resultaram em morte.

Para interromper o ciclo de violência de gênero, membros do Ministério Público do Trabalho, ativistas sociais, crianças e adolescentes discutiram estratégias para a prevenção da violência contra a mulher em uma roda de conversa transmitida ao vivo na última segunda-feira (7) no canal da Rede Peteca, no YouTube. Já foram mais de 3,7 mil visualizações, até então.

Para a vice procuradora-chefe do MPT-CE, Mariana Férrer, contribuíram para o agravamento da violência doméstica os períodos de isolamento social mais rígidos –como medida sanitária, durante a pandemia – e a tensão causada pela crise econômica que o Brasil ainda enfrenta.

Procuradora do MPT no Paraná, Cristiane Lopes dirigiu a fala às crianças e aos adolescentes que acompanhavam a transmissão ao vivo. Ela falou sobre temas fundamentais de questões feministas, inclusive os fatos históricos que levaram à criação do Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março.

A procuradora aproveitou para explicar a diferença entre assédio sexual e assédio moral no contexto do trabalho. "Assédio sexual é o crime de constranger alguém com intuito de obter vantagem ou favorecimento pessoal, enquanto o assédio moral é aquele que promove sofrimento no trabalho, sem que haja conotação sexual."

O que fazer?

Cristiane Lopes apresentou um guia com atitudes para se livrar de situações assediantes, dicas de como reunir provas contra o assediador e prestar denúncia:

• Dizer "não" claramente ao assediador e, se possível, na frente de terceiros;
• Evitar permanecer sozinha(o) no mesmo local que o(a) assediador(a);
• Fazer um diário de ocorrências: anotar com detalhes todas as abordagens de caráter sexual sofridas (data, local ou setor, testemunhas, conteúdo das conversas...);
• Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que testemunharam o fato, ou que são ou foram vítimas;
• Reunir provas, como bilhetes, e-mails, presentes, mensagens em redes sociais;
• Comunicar aos superiores hierárquicos, bem como informar por meio dos canais internos da empresa, tais como ouvidoria, comitês de ética ou outros meios idôneos disponíveis
• Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas;
• Denunciar junto ao MPT, sindicatos ou ONGs sobre direitos das mulheres.

Violência na infância

Assim como a agressão física, outros tipos de violência velados podem ter impactos sociais graves na vida adulta, principalmente nos casos de crianças educadas em convívio social machista.

Para Mônica Sillan, coordenadora geral da OSC Frente de Assistência à Criança Carente, os papéis de gênero difundidos hoje – que já na infância reservam à mulher a função de cuidadora do lar – têm consequências sociais que impactam o futuro da sociedade.

Como assistente social, ao longo dos anos Mônica tem presenciado os efeitos da masculinidade formada a partir de modelos violentos e na forma de tratar mulheres como objetos. Uma realidade que muitas vezes resulta em gravidez precoce e negação da paternidade.

Ela também apontou: crianças que presenciam casos de agressão física dentro do lar, além de muitas vezes apresentarem baixo rendimento escolar, estão mais suscetíveis a perpetuar o ciclo da violência normalizando essas situações em relacionamentos conjugais.

Basta!

Ativista social e escritora, Anna Luiza Calixto pontuou que todo o discurso sobre violência doméstica e de gênero hoje é focado na punição do agressor, do assediador. Ou seja, quando a violência já ocorreu. Ela defende a adoção de estratégias capazes de interromper os ciclos abusivos logo no início, a fim de evitar as consequências mais graves, entre elas os casos de feminicídio. "Precisamos aprender coletivamente a bater na porta de nossas mulheres antes que a violência faça isso, a interromper o ciclo do abuso quando o homem começa a falar mais alto com a mulher", exemplifica.

Anna Luiza enfatizou que onde existe uma mulher vítima de violência não raro existem crianças e adolescentes como testemunhas. "Existe a hereditariedade viciosa da violência de gênero, que é quando o homem ensina o seu filho como ele trata uma mulher. E o filho, que durante anos de socialização aprende com esse tipo de ímpeto", alertou.

 

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