Diálogos sobre causas e efeitos da gravidez na adolescência

Roda de conversa reúne mais de três mil pessoas, entre crianças, adolescentes e profissionais da rede de proteção

Mais três de mil pessoas — entre crianças, adolescentes e profissionais da rede de proteção de todo o Brasil — participaram de uma roda de conversa sobre prevenção da gravidez na adolescência, com a mediação do procurador do Ministério Público do Trabalho no Ceará Antonio de Oliveira Lima. O evento foi transmitido ao vivo no canal da Rede Peteca, no YouTube, na última sexta-feira (11).

Professora doutora da Faculdade de Medicina da UFC, Zenilda Vieira Bruno enfatizou os principais fatores responsáveis pela gravidez na adolescência. Falou sobre menstruação precoce, a iniciação sexual sem orientação, a pouca participação da família, da escola e dos serviços de saúde, a influência da mídia, a falta de projeto de vida e a baixa escolaridade. Também destacou os riscos biológicos, como a maior incidência de anemia, baixo peso do bebê e altos índices de mortalidade. Chamou atenção para os riscos sociais, como a falta de planejamento, a alta evasão escolar e a reincidência da gestação. A médica ginecologista alertou sobre os riscos que sofrem os bebês de mães adolescentes, com maior frequência de sintomas como anomalias congênitas, síndrome de angústia respiratória, pneumonia e morte neonatal.

Sobre ações preventivas, a enfermeira Verônica Dias Aragão compartilhou a experiência de profissionais da saúde e de ensino do município de Forquilha (CE), que promovem a semana itinerante nas escolas, com ciclo de palestras com os adolescentes. Como proposta, será elaborado um projeto para a criação do dia do laboratório na escola. A ideia é que profissionais da saúde possam ouvir os estudantes e colher suas demandas. Além disso, chamou atenção para os riscos do pré-natal tardio, muito comum entre as adolescentes. Boa parte delas tenta esconder a gravidez enquanto podem, com receio de rejeição na família e preconceitos na sociedade.

Protagonismo

Os conflitos no ambiente familiar foram um dos assuntos destacados pela estudante Priscila Lima Cândido, do município de Orós (CE). Ela destacou também a falta de informação, o desconhecimento dos métodos contraceptivos, a violência sexual contra crianças e adolescentes e as consequências da gravidez não planejada, além dos impactos sociais e econômicos.

Estudante da rede pública de Brejo Santo (CE), Letícia Maria dos Santos Dias, de 14 anos, mencionou medidas necessárias para prevenir e reduzir efeitos da gravidez precoce, como campanhas de conscientização, o acesso à orientação quanto ao uso adequado dos métodos contraceptivos, o acolhimento e a aceitação das adolescentes grávidas, na família, na escola e na comunidade, para que sejam discriminadas.

Completando o ciclo de exposições, a universitária e escritora Anna Luiza Calixto, mediadora do projeto Peteca Literário, falou sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes como uma das facetas da gravidez precoce. Destacou que qualquer ato de conotação sexual que envolva pessoas com idade inferior a 14 anos é considerado crime de estupro de vulnerável, de modo que os casos de gravidez de adolescentes nessa faixa etária não podem ser considerados simples casos de gravidez precoce. “O nome disso é estupro”, alertou Anna Luiza.

Aos 11 anos, Raissa Dávila de Lima, estudante da rede pública de Acopiara (CE), trouxe para a conversa um texto que encontrou na Internet. O conteúdo citava causas da gravidez precoce associadas a vários fatores, entre eles o baixo nível financeiro e social, o contexto de famílias em que os casos de gestações precoces são frequentes, além de conflitos familiares.
Durante a roda de conversa, foram exibidos vídeos de estudantes de diferentes municípios cearenses:

Ana Karolina Chaves Sousa, 14 anos, aluna de 9º ano na Escola Francisco Galvão de Oliveira, do município de Morada Nova (CE)

Regina Estela Martins Duarte, 11 anos, aluna do 7º ano na Escola Manoel Mendes Ferreira, do município de Forquilha (CE)

Luiza Alzira, de 14 anos, aluna do 9º ano na Escola Dep. Raimundo de Queiroz, do município de Cascavel (CE)

Saiba mais

A roda de conversa sobre gravidez na adolescência faz parte da formação continuada que a Rede Peteca promove com o objetivo de capacitar os atores da rede protetiva para prevenir e combater as violações de direitos de crianças e adolescentes, dentre elas o trabalho infantil, a violência sexual, a evasão escolar, o bullying, a violência doméstica e a gravidez na adolescência. O primeiro evento da série, realizado no dia 28 de janeiro, abordou as conexões entre trabalho escravo e o trabalho infantil, e alcançou quase 17 mil visualizações.

No próximo dia 24 de fevereiro será realizado o "Seminário a Escola no Combate ao Trabalho Infantil". A iniciativa é parte das ações do Programa de Educação contra a Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Peteca) em parceria com as Secretarias Municipais de Educação. A participação é gratuita e aberta ao público.

Acesse aqui o formulário de inscrição.

 

Imprimir