Quando a arte transforma

Na antessala do Plenário 13 de maio, a estudante Jhúlia Bell Costa (9) aguardava com ansiedade o momento de conceder entrevista para uma equipe de TV. De mãos dadas com a colega de escola e de palco, ela ensaiava o que dizer para a repórter sobre sua participação no Prêmio Peteca 2016. A menina de pouca estatura digeriu o nervosismo, controlou a teimosia do queixo trêmulo e encarou a câmera com a grandeza de quem sabe a que veio.

Era véspera do Dia das Crianças. Mal sabia Jhúlia que estava prestes a alcançar mais uma conquista em sua pueril trajetória como atriz: a confirmação do município de Aracati como vencedor na categoria esquete teatral. Diante das autoridades que formavam mesa por trás do mármore austero, o elenco mirim provocou sorrisos no plenário e nas galerias apinhadas de gente. Por meio da arte, eles deixaram o recado: "lugar de criança é na escola".

Muitos outros ensinamentos foram ali compartilhados, para "ouvidos limpos e almas afeitas a escutar sem preconceito", como nos versos de Millôr Fernandes na voz de Paulo Autran, em Liberdade Liberdade. Exemplo disso foi o gesto de Emanoel Rodrigo, que recusou o microfone quando chamado a cantar. Sabia que a voz amplificada abafaria a apresentação do parceiro com nome de gênio imortal, Amadeu. "Canto apenas quando dança, nos olhos dos que me ouvem, a esperança", declamava Autran, em 1965. Assim foi para os rappers Emanoel e Amadeu.

Honradez semelhante teve o estudante José Tiago Sampaio, do município de São Gonçalo do Amarante. Antes de iniciar apresentação, cumprimentou os adversários. "Vocês, como a gente, batalharam muito para chegar até aqui. Não importa o resultado. Todos somos vencedores", disse ele arrancando aplausos do público. Conjugou o verbo no plural, numa sociedade singular centrada no individualismo e na competição exacerbada.

Soou como poesia também o anúncio da estudante Edilânia Monteiro como autora dos versos mais bonitos. No estreito corredor entre as cadeiras, a professora da menina se apressava de um lado a outro, entre abraços. Vibrava como se mãe fosse, como se o orgulho não coubesse em si. Talvez por ter a real dimensão do valor da conquista para a autoestima da pequena poetisa, que muito segura declamou o texto sem recorrer ao papel.

Do papel para as tintas. Vencedores na categoria "pintura", Isabela da Costa, Mariana Gonçalves e Rafael Silva – alunos de Beberibe – retrataram a Constituição que transforma tristeza em sonhos. A mensagem ficou clara não só para os parlamentares e autoridades presentes, mas também para quem acompanhou ao espetáculo de cidadania transmitido pela televisão.

Dos telões da casa legislativa, foi exibido o curta-metragem Victor: o mundo que encontrei lá fora, produzido por estudantes de Fortaleza. O protagonista Antoni Gabriel Rodrigues faz o papel de um garoto que trabalha nas ruas, em atividades perigosas, por algumas moedas. Desemparado e sem perspectiva de futuro, ele chora. Na ficção como na realidade, o elemento de transformação é a educação. Nos segundos finais, o adolescente caminha para a escola, mochila nas costas. Por um instante, ele pára. Vira para a câmera, a observar o expectador, e pela primeira vez sorri.

Embora feliz, não é o final da história. É um recomeço com oportunidade. Desfecho que só é possível quando sonhamos juntos; e realizamos juntos também.

 

Por Juliana Castanha

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